Saudade
Para onde vai a minha vida é coisa que eu quero lá saber. Ainda tenho o cheiro nos dedos duns caranguejos que comi quando era pequenino, a mil quilómetros do mar e daqui. É esse curso que quero seguir, se for obrigado a escolher um. Ser como o cheiro que permanece, ligado a um momento que se esqueceu.
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Quando te matar hei-de ser como aqueles assassinos bem-educados que pedem desculpa aos familiares da vítima uma semana antes.
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Já não sei o que dizer. A amargura apanhou-me as mãos em água e em vida. As mãos vão contra os olhos. Mexem. Mentem sempre. Quando me sentam na mesma mesa onde estivemos sentados, parto a loiça toda e como e bebo pelos dois. Deve ser esta minha timidez e esta minha cobardia, que só quando estou longe me vem o coração às mãos e tenho vontade de to oferecer, sem medo que o possas aceitar, tal era o mal que te fazia.
Nunca vi um céu tão bonito nem tanto sossego, enquanto acabo o meu café no meio da cidade quase vazia, a não correr para apanhar o correio que já sei que não vou apanhar, sem saber que mais dizer-te, porque a minha alma está sempre a interromper-me, a chamar por ti.
Quanto mais longe, mais perto me sinto de ti, como se os teus passos estivessem aqui ao pé de mim e eu pudesse seguir-te e dizer-te quanto te amo e como te procuro, no meio de uma destas ruas em que te vejo, zangado de saudade, no céu claro, no dia frio. Devolve-me a minha vida e o meu tempo. Diz qualquer coisa a este coração palerma que não sabe nada de nada, que julga que andas aqui perto e chama sem parar por ti.
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in O Amor É Fodido
Miguel Esteves Cardoso
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também me fazes falta.
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