Perdida nos pensamentos inacabados, tropeço na pedra da calçada de uma rua estreita, baça e irregular, iluminada sabe-se lá de onde. Sinto-a como um túnel interminável, onde o nevoeiro entranha pelos cantos como uma visita habitual neste submundo que tanta gente desconhece.
Sigo vagarosamente as linhas dessa rua, procurando um significado que insiste em me negar a sua existência.
Paro. Olho o relógio, 4:23.
Elevo o olhar. A noite já vai alta.
Acendo um cigarro.
Recomeço o toque compassado do meu andamento.
Em cada esquina que atravesso, sinto que me observam, me reprovam como se não devesse estar ali. Não era suposto. Não é este o meu lugar.
Dou uma passa.
Prossigo a minha procura. À tua procura. Às vezes penso que só aqui te poderia encontrar, no meio deste nevoeiro, qual sombra indecifrável. Porque é assim que te vejo... a forma mais pura das abstractas... uma complexidade inexplicável.
Mais uma passa.
Tantas vezes, se pudesse, mudaria o meu pensamento... tantas vezes, digo. Não te percebo, nem tu me compreendes, é assim que nos definimos: complexos.
Mais uma passa.
Chego ao fim da rua, o som dos meus passos , que outrora fazia eco, é agora abafado, perdido em tanto espaço que é uma imensidão de códigos, onde agora me encontro. Perdeste-me. Pior, perdeste-te.
Mais uma passa, e apago o cigarro na calçada velha. Atravesso a rua, mudo-me para o lado de lá.
.3:10
Filipa
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