terça-feira, setembro 13, 2005

Fazes-me Falta

Porque vivemos como se o tempo nos pertencesse infinitamente, como se pudessemos repetir tudo de novo, como se pudessemos alguma coisa?

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Tu és o único que não me pode esquecer. Esquecemos alguma vez uma parte do que somos? Esquecemos apenas o que podemos isolar na lembrança - e há muito tempo que tu já nem sequer te lembravas de mim. Se desviar os olhos do presente de ti encontro-te na ressaca da nossa amizade, comentando o meu arrivismo ou o meu mau gosto com algum conhecido de passagem. Ou deixando comentar, o que é o mesmo. Por isso não posso desviar-me do que fomos, a sós, os dois. Para apagar do céu as palavras más que também eu te disse ou deixei dizer sobre ti. Tantas, tão pobres nos seus andrajos de cobardia.
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Há tão poucas pessoas cujo talento possa salvar-nos - e nem sequer sabemos descobri-las e salvá-las. Consolamo-nos na beleza imediata das coincidências, escapa-nos a beleza catastrófica dos acasos.
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in Fazes-me Falta
Inês Pedrosa