segunda-feira, março 28, 2005

Sonho

Sinto, na escuridão que agora me envolve, a podridão de ter passado, a tristeza de o ter vivido, e a frustração de o ter sentido, sabendo que não poderia ter evitado. Abraça-me esta sensação odiosa que tanto desejava ser efémera, mas que parece eterna. Suas mãos tocam o meu corpo fraco, desfalecendo-o num chão que mais parece vazio, uma espécie de nada em tudo, onde tudo é um nada significantemente grande, que define a minha existência.
Fecho os olhos e, perante tal realidade obscura, tento, com um desespero brutal, levantar-me e encontrar algo a que me possa agarrar. Algo que sinta em mim ser seguro para avançar.
Quero acordar deste sonho horrível que me persegue, noite após noite, sem descanso. Revolto-me no meu leito. Sinto o corpo contorcer-se, incontrolavelmente... Grito... não saindo som algum. Olho as minhas mãos cheias de sangue, sem perceber como. Levo-as à boca, descobrindo a origem deste líquido que escorre nas veias. Sinto uma lágrima escorrer-me na face... fecho os olhos... e caio de joelhos, sentindo a fraqueza tomar conta de mim...
Abro vagarosamente os olhos, sugando uma soberba dor de cabeça. Solto um gemido enquanto tento levantar o meu corpo, cansado.
E um silêncio profundo envolve-me.
Ouvindo unicamente a minha respiração, ofegante, tento perceber onde estou.
Ponho agora os pés no chão, erguendo-me, com a percepção de que me encontro noutra realidade. A realidade palpável. "Estou acordada...", penso. Esfrego os olhos, vendo agora com a nitidez desejada. Estou no meu mundo.
Estou agora pronta para avançar.
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Filipa
27 Março 2005
02:37