quarta-feira, janeiro 19, 2005

Uma tela

Ligo a luz.
Pego numa tela, pinceis, tinta... e começo a esboçar.
A tela ganha vida, cores, animação, alegria.
É de dia.
Sinto a ponta dos meus dedos conduzir o pincel de uma maneira autónoma.
O sentimento de conforto invade este corpo desatento.
De uma forma subtil, vagarosa, o pincel pára, e o braço repousa na mesa fria.
As tintas como que ganham vida, e escorrem pela tela, que parece transformar-se...
A tinta cai, como uma marca de sofrimento elevado, e que não resistiu mais.
As cores misturam-se, fundem-se, resfriam.
É de noite agora.
A paisagem está em tons de negro.
O sentimento de solidão substitui agora o sentimento de conforto, e o medo paira no ar.
É sufocante, dormente... assustador.
A tela que era uma paisagem viva, e cheia de cor, deu lugar a um abstracto demasiado negro e vazio para ser perceptível.
Desligo a luz.
Saio de cena.

Filipa
11/12 Janeiro 2005
00:07