domingo, dezembro 12, 2004

Ensaios sobre o Amor

Talvez seja verdade que não existimos enquanto não houver quem veja que nós existimos, que não falamos enquanto não houver quem ouça o que estamos a dizer, no fundo, não estamos completamente vivos enquanto não formos amados.

Poucas coisas são tão estimulantes e simultaneamente aterrorizadoras como saber que somos o objecto do amor de alguém, já que para quem não está completamente convencido de que merece ser amado, ser alvo de carinho é como receber uma grande honra sem perceber bem porquê.

Assim que se resolve descobrir sinais de atracção mútua, tudo o que o ser amado diz ou faz pode ser interpretado como significando practicamente o que se quiser.

Só nos apaixonamos quando não sabemos por quem estamos apaixonar-nos.

Se nos apaixonamos com tanta rapidez, talvez seja porque a vontade de amar precede o objecto do amor.

Apaixonamo-nos na esperança de não encontrarmos no outro aquilo que sabemos existir em nós - cobardia, fraqueza, preguiça, desonestidade, acomodação e estupidez.


Alain de Botton -"Ensaios Sobre O Amor"